segunda-feira, janeiro 31, 2011

Mona Kuhn


Uma das coisas boas da vida é passear por livrarias e folhear livros. Infelizmente em Lisboa não só não há livrarias verdadeiramente dignas desse nome como penso que nunca irá haver. As pessoas estão de facto interessadas noutras coisas...
Apesar de tudo, e contrariando estas ideias negativas, surgem de vez em quando pequenas livrarias com alguns motivos de interesse. É o caso da livraria de arte do CCB, que apesar de ser bastante pequena, tem alguns livros recentes publicados lá fora.
Numa das minhas últimas idas ao CCB descobri um livro de Mona Kuhn, uma fotógrafa que não conhecia. O livro chama-se "Native" e é o resultado de várias viagens que Mona fez ao Brasil, o seu país de origem. Vale mesmo a pena ir ao site dela e ver o seu portfolio, se quiserem mais informações sobre este último livro de Mona Kuhn podem ler este artigo.
As suas fotografias mais recentes foram tiradas em Veneza e já não estão neste livro. Eis dois exemplos:

Os melhores livros de fotografia de 2010

A "Photo-Eye" pediu a alguns críticos, editores e fotógrafos de todo o mundo para escolherem os melhores livros de fotografia de 2010. Podem ver as suas escolhas aqui.

domingo, janeiro 23, 2011

Somas e produtos

De vez em quando volto a pensar em questões muito básicas de matemática. Uma das coisas que nunca percebi muito bem foi a diferença entre somas e produtos. Claro que não me estou a referir à diferença entre 2+3 e 2x3 (se bem que há uma relação com isto), estou-me a referir a somas e produtos na sua definição categórica (ver por exemplo product e coproduct-não esquecer que "soma" é sinónimo de "coproduto"). O que se passa é que algumas das minhas intuições mais antigas para estas coisas vêm de categorias muito especiais como a categoria dos conjuntos finitos e a categoria dos espaços vectoriais de dimensão finita. Ambas as categorias são distributivas e na categoria dos espaços vectoriais a soma coincide com o produto.

Recentemente os livros de Lawvere ("Sets for Mathematics" e "Conceptual Mathematics: A First Introduction to Categories") ajudaram-me a ver as coisas de um prisma diferente. Tem tudo a ver com as várias maneiras de ver funções entre conjuntos. A questão é que se X é um conjunto arbitrário, as funções com domínio X podem ser vistas como "propriedades" de X e as funções com codomínio (ou conjunto de chegada) X devem ser vistas como "amostras" (ou "parametrizações") de X. Por exemplo se A e B são objectos e X=A+B é a sua soma, a característica crucial de X é ter as suas propriedades completamente determinadas pelas propriedades de A e de B. Já no caso em que X=AxB, são as "amostras" de X que são completamente determinadas pelas de A e de B.

Vejamos o caso da soma. Se A e B são conjuntos de berlindes verdes e encarnados eu sei dizer quais são os berlindes verdes e encarnados de X=A+B. Dito de outro modo se eu tenho funcões f:A--->C e g:B--->C (onde C é o conjunto das cores) fico com uma função bem determinada h:X--->C. Por outro lado se eu escolher um berlinde de A e outro de B não tenho nenhuma maneira natural de escolher um berlinde de X compatível com aquelas escolhas. Ou seja dada funcões genéricas f:C--->A e g:C--->B não existe função h:C--->X compatível com as inclusões.

Para analizarmos o caso do produto suponhamos um conjunto A de alunos de uma turma e um conjunto B de alunos de outra turma e consideremos o conjunto X=AxB dos pares de alunos de A e de B. Se escolhermos um aluno a de A e um aluno b de B ficamos automáticamente com uma escolha (a,b) de um par de AxB. Dito de outro modo: dadas funções f:C--->A e g:C--->B (onde C é um conjunto com um só elemento) ficamos com uma função bem determinada h:C--->X. Por outro lado se considerarmos o conjunto C={rapaz, rapariga} e as funções óbvias f:A--->C e g:B--->C então não temos nenhuma maneira de escolher g:X--->C (o que fazer no caso em que temos um par constituído por um rapaz e uma rapariga?)

Cartas a Lucílio

Na última edição da revista "Ler" há uma interessante entrevista com o escritor Gonçalo Tavares na qual a obra "Cartas a Lucílio" de Séneca é referida. Fiquei com alguma curiosidade e felizmente o meu pai tinha a edição da Gulbenkian. Infelizmente é um calhamaço de umas desanimadoras 700 páginas e de uma portabilidade muito reduzida (os e-books começam de facto a parecer inevitáveis...).

De qualquer modo aqui vai o primeiro parágrafo da primeira carta:

"Procede deste modo caro Lucílio: reclama o direito de dispores de ti, concentra e aproveita todo o tempo que até agora te era roubado, te era subtraído, que te fugia das mãos. Convence-te de que as coisas são tal como as descrevo: uma parte do tempo é-nos tomada, outra parte vai-se sem darmos por isso, outra deixamo-la escapar. Mas o pior de tudo é o tempo desperdiçado por negligência. Se bem repares, durante grande parte da vida agimos mal, durante a maior parte não agimos nada, durante toda a vida agimos inutilmente."

Um tipo optimista, este Séneca...